Ela segurava angustiada uma garrafa de refrigerante nas mãos.
Ele a olhava ansioso sentado à sua frente. As mãos dela já estavam vermelhas e ardidas. Os olhos dele brilhavam ao vê-la tentar abrir aquela garrafa de líquido escuro.
Ela não queria dar o braço a torcer. Sabia que, se pedisse, ele abriria a garrafa para ela em poucos segundos. Mas ela não faria isso. Era orgulhosa demais para assumir que precisava dele até para abrir um simples garrafa!
Ele tamborilava com os dedos sobre a mesa. Olhava-a prepotente esperando que ela se rendesse e assumisse que dependia dele para tudo, tudo mesmo.
Ela não assumiria isso. Sabia que pedir-lhe para abrir a garrafa seria render-se aos argumentos dele. Seria quase uma confissão de que ele estava certo. Uma confissão de dependência.
Enquanto ele a olhava e sorria ironicamente com os olhos, ela pegou um pano. Tentou usá-lo para facilitar o processo. Fez força. Curvou-se um pouco, encostou o fundo da garrafa em seu corpo magro, abraçou-a com um dos braços e, com a outra mão tentava desonroscar a tampa. Não teve sucesso.
Ele riu timidamente louco para ajudá-la. Mas também era orgulhoso. Não se ofereceria para abrir a garrafa se ela não lhe pedisse. Seria o mesmo que assumir que se preocupava com ela em todos os detalhes. Seria assumir que estava disposto a ajudá-la independente de qualquer coisa. Permaneceu sentado, calado, olhando-a quieta, desejoso por vê-la pedir-lhe auxílio. Estava disposto a socorrê-la apenas mediante um pedido sincero.
Ela mordeu os lábios e olhou para suas mãos vermelhas. Ardiam. Olhou para ele ali parado em sua frente. Não queria humilhar-se. Preferia permanecer com seu orgulho do que assumir sua dependência, tomar o refrigerante e dar trégua para aquela briga. Preferia prejudicar-se a assumir que não sabia fazer nada sem ele.
Olhou para a garrafa atenta e segurando-a com as duas mãos levou à sua boca. Usando os dentes desenroscou a tampa. Tssssssssssssssss. Soou. Ela riu. A garrafa estava aberta. Ela conseguiu. Tomaria aquele refrigerante preto sem precisar assumir que dependia dele para tudo.
Ele se enrubesceu ao vê-la sorrir enquanto tomava seu primeiro gole. Levantou-se e foi para o quarto.
Cada um em seu canto.
Ele deitado na cama pensando se talvez ela não precisasse mais dele.
Ela enternecida com o seu refrigerante na mão sentada na cozinha.
Ele sozinho no quarto, sentindo uma vontade enorme de abraçá-la.
Ela sozinha na cozinha desejando dividir com ele aqueles goles do refrigerante.
Tudo ficou na mesma. Ele não assumiu que gosta de ajudá-la e protege-la. Ela não confessou que gosta de depender dele para tudo. No fundo precisavam um do outro. De certa forma abrir aquela garrafa separou-os ainda mais. Permaneceram brigados naquela noite e, até hoje, não se sabe quando ele abrirá uma garrafa de refrigerante para ela outra vez.
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PS: Para maiores esclarecimentos o conteúdo deste conto é completamente fictício.
12 comentários:
rsrsrs
Histórias da vida real...enquanto houver jogo de forças.. dois ou mais sairão perdendo!
bj
Histórias da vida real...enquanto houver jogo de forças.. dois ou mais sairão perdendo!
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excelente comentário, é por ai mesmo.
Não sou especialista em relações mas parece um jogo de egos no qual um não quer dar o braço a torcer por pura vaidade. O resultado disso é que os dois serão infelizes.
Eu acho que o importante é que um ajude o outro e que ambos sejam felizes. Cada um sendo inteiro e feliz individualmente poderá dar o melhor de si para uma convivência saudável, na qual não haja dominadores e submissos, egoístas e generosos.
Eu escrevi algo que tem a ver com isso:
http://semamornadasomos.blogspot.com/2010/01/uniao-entre-um-homem-e-uma-mulher.html?zx=94647a0775edeab2
Hum, que história heim amiga, dá para refletir muito.Sobre a frase de minha postagem, quem sabe pode elaborar umtxto amravilhoso com ela.O que acha? Bjks
Homens e mulheres cada vez mais "parecidos", e sofrendo ao mesmo tempo por não terem coragem de admitir que, na verdade, são diferentes por natureza.
É lindo ser independente, de verdade! Mas também é lindo deixar o orgulho de lado e pedir ajuda, e oferecer ajuda. Pedir ajuda não é sinal de fraqueza. Precisa ter coragem pra admitir certas coisas.
Hei, aliás, por que tudo tem que ser uma guerra de forças, de egos? Uma batalha entre os sexos? No ambiente de trabalho ainda vai, mas o tempo todo? Tem hora pra tudo... O seu texto mostra que cada vez é mais difícil saber qual é essa hora.
Oi Tati, como disse e eu acredito: Deus é o suficiente sim.
Um bj querida amiga
Oiii
Td bom?
A Páscoa foi ótima
Comi chocolate,mas direitinho o*/
Faço reeducação alimentar,então posso comer um pouquinho de tudo *-*
E vc?
Como foi de Páscoa?
Nossa que conto lindo...
Jah tive um relacionamento assim...
É complicado viu,mas acredito,creio que o amor vence tudo!
Bjinhos *-*
Oi, passei pra conhecer seu blog, e desejar bom fim de semana
bjss
aguardo sua visita :)
Não sei a relação é de "casamento" mas ouvi dizer que é este o unico jogo onde os dois participantes podem sair perdendo.
Gostou da ração?
Pela foto você não tem peso a perder mas dá sempre um "up" na alimenãção,
Beijinho!
Confesso que fico orgulhosa de abrir uma lata de palmito, mas não sou orgulhosa de pedir ajuda. Ainda bem!
Beijo
Oii....
vi teu orkut eu acho...gostei do que você escreveu no profile(eu sou uma das poucas pessoas que ainda lê o profile :S) e resolvi ler seu blog. Gostei muito desse post....mesmo! Não só por ser apaixonada por romances, ou por gostar desse tipo de texto...você escreve bem...parabéns
Te seguindo...
beijoo
Tahi, é tem futuro! brincadeira...rsrsrs Flor vc é muito boa nisso! Maravilhosa escritora, mas temos que lançar akele nosso livro dos segredos!kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Eu nem vou dizer que desconfio com quem aconteceu isso...........kkkkkkkkkkk
Bju bju Denni
Tão mais fácil ir na cozinha e procurar um abridor, para que fazer força? rs,rs,rs....
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