Boneca de porcelana

Era visível como todos queriam que ela fosse uma bonequinha de porcelana, daquelas que dormem caladas e acordam sempre sorrindo. Queriam que ela falasse pouco e sorrisse o tempo inteiro. 

Queriam que ela tivesse aqueles cílos grandes e imponentes das bonecas de porcela. Um cabelo com cachos quase intocáveis e bochechas cor-de-rosa em tom de timidez. Seria bonito que ela fosse assim.

Todos queriam que ela só usasse tons de rosa. Que nunca falasse palavrão. Que só vestisse roupas feitas à mão e sob medida. Queriam que ela ficasse a maior parte do tempo sentada. Que não corresse, não fizesse esforço, não risse alto, não falasse da vida alheia. Queriam que ela ficasse sentadinha em seu canto, pronta apenas para ser admirada... o tempo todo.

Boneca de porcelana... era assim que ela devia ser. Não deveria envolver-se com política nem ter opiniões polêmicas. Não podia mentir nem mostrar a língua para ninguém. Tinha que sorrir... como uma boneca de porcelana que passa o dia calada, dorme imóvel e acorda sorrindo... sempre.

Era assim que ela deveria ser. Não precisava trabalhar, nem escrever, nem falar bonito ou cantar afinado. Não precisava de nenhum dom além de sua própria beleza, sensibilidade e educação. Devia mostrar-se sempre simpática, humilde e modesta. Tinha que ser pouco imponente, pouco segura e nada independente. Devia precisar dos outros para mover-se quando quisesse. 

Era assim que ela deveria ser. Era assim que gostariam que ela fosse... como uma boneca de porcelana. Mas não era. Ela não era nenhuma boneca de porcelana ,todavia ninguém ousaria compará-la a um boneco assassino... a não ser ela mesma.