"- Você se sente feliz? Essa, Vinícius, é uma pergunta idiota, mas que eu gostaria que você respondesse.
- Se a felicidade existe, eu só sou feliz enquanto me queimo e quando a pessoa se queima não é feliz. A própria felicidade é dolorosa."
- Se a felicidade existe, eu só sou feliz enquanto me queimo e quando a pessoa se queima não é feliz. A própria felicidade é dolorosa."
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Esse texto é um fragmento da famosa entrevista de Vinícius de Moraes com Clarisce Lispector. Ele confirma a conhecida ideia de que a tristeza do poeta é a sua própria poesia, visto que, só há inspiração para escrever quando há sofrimento.
Se lembrarmos então de Drummond - que somado a Clarice e Vinícius, formam o hal de meus escritores favoritos - lembraremos também dos maravilhosos versos iniciais da poema 'Versos à boca da noite':
"Sinto que o tempo sobre mim abate
sua mão pesada. Rugas, dentes, calva...
Uma aceitação maior de tudo,
e o medo de novas descobertas."
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E o que dizer das dramáticas estrofes de 'O mito' também de Drummond?
"Quero morrer sufocado,
quero das mortes a hedionda,
quero voltar repelido
pela salsugem do lago,
já sem cabeça e sem perna,
a porta do apartamento,
para feder: de propósito".
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Haveria escrita mais deprimente e mais suicida?
Não sei!
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Se buscarmos os escritos de Carisce Lispector encontraremos neles uma das mais puras verdades: "Antes o sofrimento legítimo do que o prazer forçado." E ainda em suas afirmativas, no romance 'A hora da estrela', Clarice revela usar a solidão como força pois, considera-se como o escuro da noite. Um dos mais interessantes pensamentos da autora demonstra toda essa sensação de tristeza:
"Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado com papel enfeitado de presente nas mãos - e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, então raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos." (Clarice Lispector).
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Neste mesmo raciocínio, Vinícius de Moraes e Tom Jobim escreveram a letra 'Eu não existo sem você', em que afirmaram, sem medo de errar, que "o poeta só é grande se sofrer". E assim, como disse o blogueiro Cod Lanfredi, "Tristeza, quiçá, pode ser um dom em que apenas algumas poucas pessoas conseguem conviver com ele. Entretanto, sabemos que sem tristeza não haveria a poesia. O poeta vive de tristeza. E caindo em um paradoxo. Se alegra ao concretizar seu trabalho, ou pelo menos se orgulha dele."
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Diante disso, fico a pensar se, talvez, esta minha ausência de inspiração deva-se a uma constante ausência de tristeza em mim. Então, limito-me a viver com intensidade tudo o que não é triste pois, quando a tristeza chegar, quero ter tempo para transformá-la em texto e poesia.
Faço das palavras de um autor desconhecido as minhas:
"Não consigo escrever quando estou feliz, pois a tristeza é minha fonte de inspiração, quando triste, escrevo sobre minhas angústias e isso me alivia... Quando alegre, não penso em outra coisa há não ser em viver cada instante de como se fosse o último..."
5 comentários:
Perfeito Tahiana, como vc escreveu bem este texto, meu Deus, fiquei impressionada, merecia publicação em jornal, algo assim para todos (mais) lerem. Isso é a pura verdade, eu quando estou triste, com saudade, com furor, ignoro a quantidade de linhas e escrevo com intensidade. Isso os poetas e o desconhecido tem toda razão, e as palavras saem como gotas de sentimentos profundos, atingindo e aglomerando até pedaços da alma!
Lindo, lindo!
Um beijo da Ju
Tahiana,
é amiga vc definui super bem! Também acho que não existe poesia sem tristeza. Ainda bem que sou feliz e não sou poeta.. rsrsrs..Bjos no coração, Feliz Dia do Amigo e fica com Deus
Tahiana,
é amiga vc definui super bem! Também acho que não existe poesia sem tristeza. Ainda bem que sou feliz e não sou poeta.. rsrsrs..Bjos no coração, Feliz Dia do Amigo e fica com Deus
Lindo e verdadeiro esse texto!
Fico feliz que esteja bem e aproveitando todos os instantes de sua vida.
Você escreve bem de qualquer maneira, Tahiana.
Prefiro você nessa alegria intensa, paz interna, bem-estar...Pode existir algo melhor que isso?
Beijos!
Que lindo Tahiana!! 'Não tenho para mais anda, ser feliz me consome'.
Sim!!Realmente quando estamos felizes, esquecemos dos nosso mundo interior e queremos exteriorizar tudo, é muito som, é muito sol, é muita festa.
Mas, quando estamos tristes, queremos solidão e entramos em contato com a nossa psiquê, tão deixada de lado. Seria bom que sempre a convidassemos para um chá, em momentos bons e tristes.
Lembro uma vez, ao 17 anos, que fiquei com gânglios no corpo inteiro. (Se raspasse a cabeça, as pessoas veriam uns 30). Os médicos não souberam que eu tinha, entrei as 9 horas da noite em um hospital e só sai as 3 da manhã. Foi o meu primeiro contato com o medo de morrer ou de estar muito doente, e lembro, como se fosse hoje, o contato que tive com o meu interior e com algo maior que nós, que eu chamaria de Deus. E aquele dia me mudou...para sempre.
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