Ela tinha mania de querer organizar o mundo. Dizia que a vida seria mais inteligente se fosse mais organizada. Ela queria organizar os sentimentos em gavetas, etiquetar emoções e documentar os fatos. Ela tinha aquela coisa de não dar um passo sem contar os segundos que levaria para isso. Gostava de ter tudo previsível e programado e odiava quando as coisas saíam de seu alcance.
Ela tinha medo de perder o controle das coisas. Medo de descobrir que por dentro era vazia de tudo, inclusive de si mesma. Tinha medo de assumir que não se conhecia e que precisava de outras pessoas para completar a sua vida. Por isso ela fugia. Fugia criando histórias para se preocupar. Criando cenas de trabalho e preocupação desnecessários.
Ela tinha um dom de organizar as roupas pela cor, os sapatos pelo modelo e as calças pela marca. Tinha um jeito previsível de arrumar os cabelos, escovar os dentes e lavar a louça.
Ela sempre tinha uma lista em mãos. Qualquer lista, de qualquer coisa. Lista de mercado, de e-mails, de calorias, de atividades do dia, de telefones a serem feitos. Lista de coisas que no fundo ela sabia que não precisava.
Ela tinha um jeito meio amplo de falar, pausadamente, equilibrando letras, gerundios e plurais. Tinha um "quê" de discurso decorado em sua fala. Uma espécie de calculismo exagerado.
E ela vivia assim com tudo no lugar... menos os seus sentimentos, menos a si mesma... que ela vivia fingindo entender nas listas do seu cotidiano.
Um comentário:
E ela ia tentando ser feliz..nossa Tahiana, que lindo, adorei!
Um beijo da Ju
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